Xan e Vitor

6_Alexandre e Vitor

 

 

Por mais que isso possa ter sido um problema para a minha geração, me assumir gay nunca foi uma questão para mim. Tive pais muito amorosos, muito próximos. Estudei Comunicação, eu era um “bicho grilo”, então podia estar com garotos, com garotas… Eu apresentava todos para a família, sem o menor problema, e eles os recebiam com carinho e acolhimento. Sempre foi uma coisa natural.

Eu vivi isso na década de 80, no interior de São Paulo, numa cidadezinha muito pequena. Certa vez, muitos anos depois de ter saído de lá, voltamos eu e Alexandre para visitar a família e fomos à casa da Dona Maria, mãe da menina que cuidava de mim. Ela perguntou: “Esse é o seu companheiro?”. Ela usou essa expressão. Nós ficamos surpresos, era uma senhora de quase setenta anos. Que sabedoria! A gente não pode julgar nem subestimar ninguém. Às vezes, mesmo num ambiente cultural ultraconservador, há pessoas com outra visão de mundo.

Muitas vezes o preconceito está no próprio gay, na forma como ele se vê, como se coloca. Se você age com naturalidade, dependendo da forma como você fala de uma pessoa que ama, se você se coloca de forma amorosa, não tem como não ser bom. Nós temos uma participação direta na maneira como os outros nos acolhem. E tem que ser verdadeiro. Se não assumir seu parceiro dentro de você, como irá apresentá-lo para outra pessoa? É simples assim. Qualquer pessoa que goste de você terá capacidade para compreender isso. É como se dissesse “Ah, tá, então é essa pessoa que te faz feliz? Então ela é bem-vinda”.

De minha parte, eu sempre tive muito clara a minha condição homossexual, politicamente, socialmente, no trabalho… Antes de qualquer coisa tem que haver respeito, respeito pelo ser humano, independente de suas escolhas relacionadas a sexo, política e religião. E se você não estiver tranquilo com o seu tesão, sua vida, nada vale. Precisa estar inteiro: política, sexualidade, amor, trabalho, tudo junto. Eu sempre vivi politicamente. Digo isso porque acho que a gente tem que exercer nossa cidadania afirmando nossa sexualidade, as nossas escolhas amorosas. No trabalho, a gente tem que falar da nossa condição, sim. Na rua, passeando com seu cachorro, você tem que falar da sua condição, sim. Não é levantar bandeira, “Eu sou gay!”, mas “Oi, prazer, esse aqui é meu companheiro Vitor”, como qualquer hetero faria. Eu ser gay está em segundo plano, não importa. Importa que estou apresentando a pessoa que eu amo para mim mesmo, antes de apresentar para qualquer outro. Essa é uma conquista de todos nós. E precisa ser exercitada diariamente, independente de idade ou geração. Conquistei essa consciência aos 13 anos, quando me descobri gay, mas eu nunca fiz disso um problema. Se não for natural, vira um fantasma na sua vida, você não consegue viver inteiro.

Alexandre Farias (diretor de arte) e Vitor Zenezi (jornalista), juntos desde 2004.

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