+ LOLA
Uma coisa que eu vejo é o preconceito do próprio gay, que quando se descobre gay, acha que não pode ter uma vida normal. Que tem que viver no gueto, se esconder. Acho isso muito venenoso. O legal deste projeto é fazer vir à tona a normalidade da nossa vida em família.
A gente já conviveu com vários gays que, quando souberam que temos uma filha de 12 anos, ficaram assustados. “Mas você tem uma filha, como assim?”. Parece quase de outro mundo. Os preconceitos da sociedade estão enraizados também na cultura dos gays, que acham que têm que viver isolados, nunca ter um namoro sério, jamais um casamento, e muito menos um filho. Nesse meio, os estereótipos se reforçam. Principalmente o gay masculino não se imagina tendo filho. Uma lésbica pode pensar nisso, ela pode gerar um filho. Um homem gay, por não poder gerar, nem pensa nessa possibilidade. Perdi amigos gays porque fiz uma adoção. Tive amigos que falaram ”Você é louco!” e se afastaram mesmo de mim.
Eu nunca tive muito o hábito da vida noturna, de fazer programa tipicamente gay. Eu nem gosto de programa gay, eu gosto de programa bom. Eu gosto de gente, não de um só gênero. Eu confronto até hoje alguns amigos sobre isso. Às vezes, quando convido “vamos a uma festa?”, a primeira pergunta que fazem é se a festa é gay. O que importa se é uma festa gay? É uma festa de gente, gente feliz. Parece até um medo do tipo “eu posso sofrer alguma retaliação se estiver num ambiente onde não sou aceito”. Mas, na verdade, se a gente não se coloca com respeito e dignidade em todos os ambientes, não seremos aceitos em lugar nenhum, sendo gay, sendo hetero ou não sendo nada. Eu defendo a dignidade, defendo que tenho o direito de ser feliz como qualquer outra pessoa, independente das minhas escolhas.
Tem quem fale que eu sou quase um gay homofóbico. Eu respondo “Homofóbicos são vocês, com vocês mesmos!”. Sabe aquele tipo que se faz passar por bofe? E quando você pergunta por que ele age assim, ele diz “Ah, porque assim você pega mais caras”. Hããã?! Aí você percebe uma fala que ainda é enraizada no preconceito, enraizada no machismo, no paternalismo, do pai, do avô, e também da mãe e da avó passivas, submissas, da mulher submissa. Eu fico apavorado quando vejo esse tipo de coisa. Acho muito doido, não entendo. Mas também evito fazer julgamentos sobre as pessoas que têm esse preconceito ainda tão potente na vida delas, mesmo sendo gays. É difícil, a gente não sabe a história delas, o quanto precisaram dessa posição de defesa, de ter que ter armaduras e tudo o mais.
Já eu não tive esses problemas, desde muito novo me aceitei, foi natural. Por isso eu fico muito assombrado, até pela potência negativa que esse tipo de coisa tem, de você não se aceitar, de não se assumir, seja no que for – não importa a escolha que você faça.
Marc Kraus (artista visual) e Daniel Wagner (maquiador), juntos desde 2010.