Alex e Zal

27_Alex e Zal

 

 

Tenho uma teoria de que os gêneros vão acabar. Tem que acabar, não funciona, é isso que cria atrito, não dá para ser assim. Não dá para classificar as pessoas pelo sexo ou pelo tipo de desejo sexual porque ninguém é igual ao outro, em cada um isso é diferente. Como disse Drummond, todo ser humano é um estranho ímpar. E é verdade! Dentro do universo LGBT, cada vez mais colocam uma letrinha na sigla. Se formos separar todos os tipos, vai chegar uma hora em que vamos ter a quantidade de classes correspondente à quantidade de pessoas.

Eu busco me preservar, não levanto bandeira. Poucos sabem que sou casado com ele há tanto tempo. Quando a gente encontra alguém na rua, eu o apresento como Alexander, não ponho adjetivos, acho todos muito confusos.

“Companheiro” parece coisa de partido político. “Namorado”, já passamos dessa fase; “marido” a gente ainda não é, apesar de viver uma relação marital. Eu nunca sei exatamente o que falar, então o apresento só pelo nome também: “Este é o Zal”, para bom entendedor um pingo é “i”.

Temos planos de casar legalmente, sim. Quando a gente começou, ainda não existia essa possibilidade, nem vislumbrávamos isso. Hoje em dia existe, é certo fazer, é uma garantia que temos. Se não garantimos nossos direitos legalmente, somos atropelados. A gente sabe de diversas histórias de casamentos que não eram oficiais e, quando um morreu, o outro foi completamente hostilizado pela família, pelos interesses econômicos.

Preservar nosso lar também é uma maneira da gente se resguardar. A casa é um lugar bastante sagrado. Não é qualquer pessoa que vem aqui. Não que a gente vá fechar a casa, ficar encastelado, mas buscamos preservar um pouco essa energia. A gente trabalha muito, dez, doze horas por dia, então chegar em casa é ter tranquilidade, é tomar uma taça de vinho e relaxar, curtir o sossego do lar.

Logo no começo do namoro nós fomos agredidos em Ipanema. Era uma hora da manhã, a gente estava voltando para casa e viu uma galera do outro lado da rua. Uns três ou quatro atravessaram, um deles já chegou dando uma pezada no meu ombro. O outro deu um “telefone” no ouvido dele. Nós gritamos e um segurança e um porteiro vieram ajudar, acharam que era assalto ou coisa assim. Aí eles foram embora. Foi punk! Felizmente, essa foi a única vez.

Logo depois eu me mudei de Ipanema porque as coisas estavam bem esquisitas. Existe uma fronteira ali, não é uma região tão friendly quanto pensam.

Fora esse episódio infeliz, socialmente, nós somos muito bem aceitos em todos os lugares, mas acho que isso também tem a ver com o fato de sermos bem-sucedidos. Se você não é bem-sucedido profissionalmente, financeiramente, sofre mais constrangimento, sofre mais preconceito. Isso é um fato, mas não devia ser assim. Falta saúde, educação… Mas falta respeito pela cidadania. São direitos de todo mundo, todos têm direito à liberdade, à igualdade – artigo 5º da Constituição.

Alexander Sirotheau (arquiteto) e Zalboeno Lins (jornalista), juntos desde 2003.