Nunca houve, da nossa parte, essa visão de que somos um casal homoafetivo. É tão normal gostar, amar, é tão natural que não cabe tachar. Não é um “amor homoafetivo”, é “amor”. Não desmerecendo a importância de se falar sobre este assunto, a gente acha que vivendo e demonstrando nosso relacionamento, automaticamente estamos contribuindo para que a coisa seja encarada de forma natural.
Nossas famílias também assimilaram isso muito bem. A princípio era só com respeito, “O mundo é deles, vamos respeitar”. Hoje já são mais participativos, já estão entrando no nosso mundo.
A rede social é, sem dúvida, um grande facilitador. Ali a gente se apresenta sempre juntos, na maioria das coisas que a gente faz, em eventos, e o pessoal comenta “Ah, adoro o casal”, “Amo esse casal”. Quer dizer, já está oficializado ali também. Eu até fico admirado quando estou em algum evento e tantas pessoas diferentes vêm falar com a gente, pessoas que nos enxergam e nos aceitam como casal, mesmo. E isso acontece de uma forma normal, tranquila, sem que a gente tenha que chegar e falar “somos isso”, “somos aquilo”.
Sou muito grato por vivermos nesta época. Tenho mais de 50 anos, e quando era adolescente, eu via como os gays adultos viviam, era mais sofrido, muito pouco à vontade, porque naquela época as pessoas eram muito mais intolerantes. Hoje, a coisa está sempre em discussão. Há muito que trilhar ainda, muito a conquistar, mas só o fato de estar aí em ebulição já é formidável. “Ah, eu não aceito!”. Ótimo, agora pelo menos a gente sabe quem são os que não aceitam, quem são os intolerantes e os que toleram, está todo mundo se expondo, mostrando o que pensa. Isso é muito positivo, sabemos dos prós e dos contras. Hoje, o homossexual está conseguindo conquistar mais o seu espaço. Acho essa época muito boa, e a tendência é melhorar.
Eu tenho dois irmãos mais velhos que também são gays. Quando eu e o Beto resolvemos morar juntos, eles já tinham seus namorados, mas era uma coisa muito velada, que eles segredavam. Depois que o meu relacionamento começou a fluir mais abertamente, houve um encorajamento recíproco, a gente começou a ter mais interação, a família toda passou a ter mais convivência. Todos ficaram mais leves… Acho que quando as pessoas se assumem, tudo fica mais fácil.
É o que falei, somos tão bem resolvidos socialmente que as pessoas percebem e pensam “Nossa, por que não ser assim? Por que eu sou o contrário?” Vamos continuar vivendo bem na nossa relação e vamos ver o que vai rolar, o que vai dar. Quem se inspirar, achar incrível, ótimo! Até um casal heterossexual, mesmo. Temos um amigo hetero que fala “Eu já casei cinco vezes e vocês continuam casados. Qual é o segredo?”. A gente acha graça, mas a verdade é que não tem segredo nenhum.
Beto Silva (comerciário) e Cláudio Cadeco Pinto (professor), juntos desde 1994.