Luiz Paulo e Diogo

18_Luiz Paulo e Diogo

 

 

Nunca nos separamos, mas também não fazemos da longevidade do relacionamento uma obrigação. O que sempre foi muito claro para nós é a vontade de estarmos juntos. Sabemos que não existe parceiro perfeito. Nós não nascemos um para o outro, a gente se escolheu.

Com o tempo, você introjeta o fato de que a sociedade te vê de forma negativa; em alguns momentos talvez nem veja, mas você tem essa sensação. A mentalidade está começando a mudar, mas não adianta querer chegar numa família tradicional, cristã, e empurrar quebras de paradigmas goela abaixo. É preciso tentar mudar o modo como eles enxergam a homossexualidade. Mostrar que a orientação sexual não define a pessoa em si. Escutamos coisas do tipo “Eu gosto do Luiz e do Diogo porque eles não são tão afeminados”. Aí você espera um pouco e fala “Olha, tem gay que é afeminado, e não há problema nenhum nisso”. Poder desconstruir verdades sociais é uma oportunidade que você só tem porque conquistou aquele espaço. É como se fosse uma microrrevolução, um processo revolucionário quotidiano.

Tem aquela listinha, o “check list gay”: vai gostar de cabelo, de moda, de falar mal dos outros, fazer fofoca. Eu sou exatamente o oposto! Eu não gosto de moda nem de cabelo, não falo mal das pessoas, não sei nada sobre esse mundo dos famosos, não gosto de ver novela. E isso se relaciona com várias outras coisas da nossa sociedade. As pessoas esperam de um gay que ele consuma certas coisas, que se vista de certa forma, que aja de certa maneira, mas não é a nossa sexualidade que define o nosso gosto e o nosso comportamento.

A homofobia está se tornando velada, assim como aconteceu com o racismo. Isso é perigoso, porque a gente passou de uma etapa muito mais hard e está entrando numa mais soft, em que é mais difícil combater o preconceito. Algo parecido com o que acontece com as mulheres em relação ao machismo.

Recentemente um amigo nosso, de 24 anos, se matou. Desde que se assumiu, muito novo, sofreu muito preconceito, apanhou, foi humilhado. O pai dele era muito homofóbico. Depois, entrou num período de “aceitação”. Só que, muitas vezes, essa “aceitação”, essa tolerância, é ódio administrado, não tem nada de aceitação. Talvez o histórico de rejeição tenha influenciado no suicídio. Na época, ele foi à Vara da Infância e da Juventude reclamar do pai e a assistente social não sabia nem o que era homofobia. Muita coisa mudou nos últimos dez anos.

Há uma onda de ódio crescente que me preocupa muito. Nas redes sociais, as pessoas decidem que são juízes… Dói muito ligar a TV e ouvir um candidato à presidência falando “Ninguém reproduz pelo aparelho excretor”. Eu cancelei a assinatura do jornal porque esse tipo de coisa me incomodava, fazia mal, eu ficava deprimido. É muito chocante escutar alguém falando o que é uma família, e depois eu chegar em casa e olhar para mim e para o Diogo e pensar: como alguém pode dizer que isso não é uma família? Somos tão felizes juntos.

Luiz Paulo Labrego (professor) e Diogo Matos (economista), juntos desde 2002.

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