Aos 19 anos eu tive meu primeiro contato com um homem, um cara mais velho, na época ele devia ter mais ou menos uns 35 anos. Tive sorte de ter tido esse encontro, me despertou, comecei a entender o que eu era. Foi uma pessoa muito positiva, muito do bem, já bem resolvido; ele conversou muito comigo e me passou um pouco a sua experiência: “Você vai passar por várias etapas, os seus medos, os medos da sua família, o medo dos amigos e o preconceito”. Medo do que é, do que você é, e medo de ser rejeitado… Uma coisa é você aprender a viver só por um tempo, estar só e não depender de viver ao lado de ninguém. Outra coisa é ser rejeitado, é você não ter nada.
Tenho histórias de amigos que foram vitimados, perdi amigos no Recife assassinados pelo fato de serem gays. Tive um namorado que os próprios pais tentaram matar na calada da noite porque descobriram que ele era gay, um jovem de 16 anos! Essas histórias de violência, a gente escuta e vivencia muitas. Acho que dei sorte, pois só encontrei pessoas do bem na minha vida, que mostraram que estamos aqui para viver igualmente, no mesmo espaço, sem manchas, sem diferenças, isso é que é o importante, e eu consegui viver assim até agora.
Já eu comecei a viver minha homossexualidade depois que cheguei ao Rio. Eu experimentei um pouco aquela sensação do anonimato, aquela cidade tão grande, com tantas pessoas tão diferentes entre si, eu me senti “mais um”. Era bom, queria fazer coisas que nunca tinha feito – não que antes eu sentisse necessidade de fazer, até porque as minhas relações com namoradas em Macaé sempre foram muito verdadeiras, mas quando vim para o Rio descobri um novo mundo. Foi quando tive a oportunidade de vivenciar ambientes como boates, festas, bares, tudo voltado para o público LGBT. E aquilo me despertou tanto calor, interesse, motivação…
Na primeira vez que fui a uma boate gay, estava tão desesperado para saber como seria, o que ia encontrar, que na tarde do dia anterior vi todos os possíveis itinerários de ônibus e fui lá, depois fiz o trajeto inverso para casa. Eu tinha tudo na cabeça e anotado num papel, e quando chegou a noite, em frente à boate, já vi homens se beijando, o coração disparou. Eu tinha medo de estar ali, mas esse medo, em contrapartida, era excitante. Não virei rato de boate nem nada, mas acho que foi o primeiro momento que me permitiu realmente ir mais fundo naquilo que eu gostaria de experimentar. Descobri que, na verdade, esse desejo já vinha aflorando aos poucos, sem que eu tivesse percebido antes.
Quando eu realmente vi que era gay, não tive mais nada com mulher, as meninas não me despertavam mais interesse, eu só tinha prazer com outro homem. Mas sempre fui muito autossuficiente, calado, reservado. Meus namoros não duravam muito tempo. Depois que eu encontrei o Hugo, um mundo se abriu à minha frente, um mundo de entrega, amor e confiança.
Moisés Pires (dentista) e Hugo Pinheiro (servidor público), juntos desde 2004.