+ PEU E PEDRINHO
As estatísticas são muito tristes. Um adolescente gay tem seis vezes mais chances de tentar o suicídio do que outro adolescente. Isso é grave demais. Como professora, consigo perceber no meu cotidiano como a homofobia e a transfobia são danosas no ambiente escolar. Minha militância passa por esse lugar, de lutar contra a exclusão homofóbica e transfóbica na escola.
O nível de escolaridade das travestis é muito baixo. Quando elas começam a entender, a construir uma identidade de gênero, com onze, doze, treze anos, é quando a escola começa a rejeitá-las, é quando a família as joga na rua. Quem as acolhe? Sem escolaridade, como é que elas vão trabalhar? Como vão construir um itinerário profissional? Isso é gravíssimo na nossa sociedade e precisa ser discutido a fundo.
Nossa editora, a Metanoia, é especializada em literatura homoafetiva e teologia inclusiva. Nós defendemos a teologia inclusiva, em primeiro lugar, porque é escrita por pessoas muito sérias, por teólogos que estudam o contexto da bíblia dentro da antropologia, da sociologia, da psicologia, enfim, que usam ferramentas que a ciência fornece para desconstruir o discurso homofóbico. Ela também é conhecida como “teologia queer”.
Qual seu grande mérito? É que ela usa a linguagem teológica, a linguagem da crença – que não é a mesma linguagem da ciência. Quando você encontra um fundamentalista raivoso e usa um argumento científico (como já vimos em vários debates), o diálogo não acontece. Porque a linguagem dele é a teológica, a linguagem mitológica da bíblia. O imaginário dos fundamentalistas religiosos é totalmente diferente do ideário da ciência. Eles caminham paralelamente. Mas se você estuda teologia inclusiva e aprende a desconstruir os argumentos da exclusão e dos preconceitos que se baseiam na literalidade da bíblia, os fundamentalistas perdem seus argumentos. Porque eles não estudam, eles só repetem o que leem. Eles não vão ao contexto histórico, não sabem fazer uma leitura crítica.
Nós somos militantes. Na passeata, na caminhada pela liberdade religiosa, nós estamos lá. Na parada gay, na caminhada de visibilidade lésbica, estamos lá também e por aí vai. Nós temos um papel político. A gente acredita que nossos livros podem abrandar esses discursos calorosos em que as pessoas usam argumentos da religião para excluir outras pessoas. Na verdade, nossa literatura desconstrói esses discursos; a partir daí fica muito mais fácil conversar, construir pontes com as diferenças. Partindo do discurso teológico inclusivo, em vez de você construir muros, você constrói pontes entre as pessoas. Nós lutamos por isso, por uma escola inclusiva, uma Igreja inclusiva, uma sociedade inclusiva.
Léa Carvalho (professora e produtora editorial) e Maria Luiza Santos (designer gráfico), juntas desde 1998.