O amor – este sentimento ou emoção que, juntamente com a capacidade de pensar, funda nossa humanidade – tem sido evocado nos discursos individuais e / ou coletivos com que lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transexuais reivindicam, em diferentes culturas e sociedades, visibilidade, representações positivas, respeito e direitos. Isto muito antes de os sexo-dissidentes e transgêneros se posicionarem para si mesmos e no mundo por meio das identificações que, hoje, constituem a sigla LGBT; e muito antes de o movimento político em prol de seus direitos emergir na esfera pública. O amor sempre esteve aí, ainda que, no princípio (e ainda hoje em muitos casos, infelizmente), ele não ousasse dizer seu nome.
Mulheres e homens submetidos a violências simbólicas e físicas por parte de instituições como a Língua, a Família, a Igreja, a Fábrica, a Escola, a Clínica, a Justiça e / ou o Estado, em função do que outros homens e mulheres consideravam o Inominável, o Vício, o Pecado, o Desvio, o Erro, a Doença, o Crime e / ou a Desobediência. Esse suposto Mal, na verdade, não passava do amor não reconhecido e reprimido. E se, num primeiro momento, viveram esse amor clandestina e privadamente, não ousando dizer seu nome em público para preservar reputações, relações e vidas, com o tempo e paulatinamente, engajaram-se na luta para dizer seu nome.
Sem evocar publicamente o amor, dificilmente gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (no caso das pessoas transexuais, estamos falando de um amor a si mesmo; ao que elas sentem que são de verdade, já que, nesses casos, a questão não é de orientação sexual, mas de identidade de gênero) conquistariam o que hoje chamamos de “visibilidade e orgulho LGBT” – nem o direito ao casamento civil. E sem reconhecer que o amor transformou a instituição Família (nunca podemos perder de vista que esta começa a se transformar justamente a partir do momento em que as mulheres passam a conquistar o direito de se casar por amor, e não por obrigação), as famílias homoafetivas jamais se apresentariam como núcleos de relações duradouras baseadas no amor – nem, a partir daí, reivindicariam seus direitos civis, inclusive o de adotar filhos ou de gerá-los por meio de técnicas de reprodução assistida.
Ainda hoje, o amor permanece um elemento fundamental na luta de LGBTs pela cidadania e dignidade humana plenas. A prova disso é este livro que Simone Rodrigues dá à luz. Reunindo retratos de famílias homoafetivas em situações domésticas, acompanhados de testemunhos sobre diferentes experiências da passagem da vergonha para o orgulho, Nomes do Amor quer mostrar quão familiares são os casais sexo-diversos, com filhos ou não; ou seja, o objetivo do trabalho é mostrar que, de perto, esses casais têm algo em comum com todos os outros: eles se formaram a partir (e perduram por conta) do amor, ainda que este se apresente por meio de diferentes nomes.
Simone Rodrigues nos convida a constatar, em expressivas e emocionantes fotografias, que é o amor que faz a diferença. Se você duvida disso, confira. Se você não tem dúvida, confira igualmente – pois amor nunca basta.