Bianca e Renata

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+ VALENTINA

Sobre o plano de ter filhos a gente fala desde que se conhece. Com um ano de namoro, já perguntávamos “como vai ser?”. A gente sonhava, mas não tinha ideia de como realizar esse sonho, como seria o tratamento, com qual médico… O primeiro pensamento que costuma vir é “pega um amigo gay”, mas não é tão simples assim. A ideia foi amadurecendo aos poucos, a gente começou a entender melhor, foi se informando. A perspectiva também aumentou, tanto financeira como de metas de vida. Quando a gente viu, já tinha todos os elementos de que precisava. Foi quando decidimos.

Eu era muito fechada, muito reservada em relação à nossa vida. A Valentina fez uma explosão dentro de mim. Quando a Bianca engravidou, tomei algumas providências rapidamente: chamei certas pessoas e disse “Preciso conversar com você. Tem algo muito bacana que acabou de acontecer, eu estou muito feliz e como você é uma pessoa importante para mim, eu preciso dividir isso”. E saí falando assim com várias pessoas. Precisei falar com chefe, amigos, gente que nunca soube nada da minha intimidade. Ou talvez até soubesse, mas respeitava por eu nunca abordar o assunto. Hoje elas comentam minha transformação e eu me sinto muito mais leve, muito mais feliz. Essa sou eu, antes eu era metade.

A chegada da Valentina exigiu essa transformação. Ela me permitiu compartilhar algo que antes eu não me permitia. Antes eu achava, talvez por preconceito, por medo da não aceitação, que estaria agredindo as pessoas, confrontando suas ideias, por isso preferia fazer segredo. Ela me deu coragem. Aquele receio, aquele medo, simplesmente se diluíram e constatei que eu mesma havia construído uma barreira. Ficou comprovado que era algo muito mais construído por mim do que de fora para dentro, pois a aceitação das pessoas foi unânime.

Com isso, nossa vida mudou inteiramente. É como se a gente tivesse saído do armário. Não que antes não fôssemos assumidas, mas não fazíamos a menor questão de mostrar para ninguém. Depois da Valentina, começamos a participar de grupos, de programas, a dar entrevistas. A gente quer e precisa mostrar que sim, aqui existe uma família, que isso é possível, que as pessoas podem ir atrás dos seus sonhos.

A Valentina está na creche desde os cinco meses. Assim que a gente entrou, a Bianca foi convidada para fazer parte de um grupo de mães no WhatsApp. Quando ela foi adicionada, disse “Gente, está aqui o número da outra mãe da Valentina, a Renata”. Um tempo depois, uma das mães falou “Ah, eu nunca comentei nada, mas queria dizer que minha filha também tem duas mães, eu e fulana”. A menina era mais velha que a Valentina, já estava na creche há muito tempo. Olha que coisa bacana! E necessária: toda criança precisa dessa autoestima, desse reconhecimento. Isso me tocou demais, justamente porque nós vivemos essa ruptura e estamos incentivando outras pessoas. Nós abrimos uma porta.

Bianca Repsold (publicitária) e Renata Ribeiro (jornalista), juntas desde 2001.

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