Nós nunca colocamos as coisas de forma rotulada: “é um casal gay, não é um casal gay”, não existe isso. A resposta que a gente dá para a sociedade são as nossas atitudes. Quase todo mundo acha que gay é à margem da sociedade, meio delinquente, drogado, corrupto, depravado, promíscuo, não sei mais o quê. Aí, de repente, vê duas pessoas caretas, que trabalham à beça, e não entende nada.
A gente acorda todo dia às cinco, seis horas da manhã, ganha nosso sustento, vive conforme nossas condições; o que conseguimos na vida foi porque batalhamos para ter e continuamos batalhando para melhorar mais ainda. E é isso. Essa é a resposta. É assim que a gente responde: com atitude. Enquanto o outro acha que eu sou uma depravada, uma promíscua, eu estou trabalhando, vivendo minha vida.
Mas tem coisas que me incomodam. As pessoas, quando olham um casal heterossexual, em geral não pensam como eles fazem sexo. Mas quando é um casal homossexual, a primeira coisa que vem à cabeça é a configuração na cama, tipo “quem é o homem, quem é a mulher”. Elas precisam perguntar “E aí, quem é o ativo? Quem é o passivo?”. O quê?! Não sei nem o que é isso! Já ouvi essa pergunta algumas vezes, inclusive na minha própria família, e acho grosseiro demais, no mínimo indiscreto. Como se só existisse isso, homem ativo / mulher passiva. Que falta de criatividade!
No casamento da minha irmã, nós entramos juntas como madrinhas. Houve certa tensão… A cerimonialista, incomodadíssima, queria até o último momento trocar os pares, pegar os primos. No final, eu já quase me dando por vencida, o noivo teve um ataque: “Vocês são nossas madrinhas e vão entrar juntas!”. E foi a primeira vez de verdade que aparecemos juntas para a família inteira, como um casal, não apenas como duas pessoas que moram juntas e que podem ser amigas. Foi um reconhecimento oficial, mesmo.
Quando recebi o convite para participar do Nomes do Amor, cogitei a hipótese de não participar por receio do que as pessoas diriam, que tipo de conceito, de preconceito, elas poderiam ter sobre nós. Mas, ao mesmo tempo, fiquei pensando que isso não poderia ser mais forte do que a minha personalidade, do que a minha vontade, a minha vida. Eu não estou fazendo nada de errado, muito pelo contrário. Estou trabalhando de forma digna e afirmando valores, coisas que eu acredito que sejam fundamentais para a construção de uma sociedade justa, com mais educação e cidadania.
Essa coisa de rótulo tem que terminar. Estamos falando de preconceito contra o gay, mas também contra o bi, contra o negro, contra o índio… Você tem que olhar para o ser o humano como uma pessoa, olhar os valores morais dele, o que ele faz, o que acrescenta. Acho que nossa luta é única, é por direitos humanos. Somos todos iguais.
Roberta Macedo (gerente de projetos sócio culturais) e Gisa Colombo (arquiteta), juntas desde 2000.