Matheus e Livio

4_Matheus e Lívio

 

 

Nós namoramos desde os 17 anos. Fomos os primeiros namorados sérios um do outro. Não chegamos a fazer planos de um relacionamento longo, o compromisso aconteceu naturalmente. Não imaginávamos que estaríamos até hoje juntos, mas foi dando certo… Hoje nos consideramos casados, mas optamos por não morar juntos, achamos que é muito cedo. É bom cada um ter seu espaço, até porque já passamos a maior parte do tempo juntos.

Demorou um pouco, acho que um ano, até eu contar para o meu pai. Para ele foi mais difícil encarar. Ele não falava sobre o assunto, mas uma vez, num churrasco, descontou tudo de uma vez e explodiu comigo, praticamente me expulsou de casa porque descobriu que eu estava namorando o Matheus. Não é que ele tenha descoberto tudo nesse dia, ele já sabia que eu era gay. Houve vários eventos na minha vida, desde a infância, coisas bobas que eu nem me lembro mais, mas que sinalizavam… Ele já sabia, sim. Sabia, mas não aceitava. Para ele era uma coisa escondida. Nesse dia do churrasco ele reagiu mal por saber que eu estava me assumindo. Muita gente aceita que o filho seja gay, desde que seja discreto. E foi bem nessa época, mesmo, que a gente começou a assumir que estava namorando.

O curioso é que a grande preocupação dele não era se eu ia sofrer e ser oprimido pela sociedade, até porque ele era um dos opressores. A grande questão, na verdade, é que ele não queria que os outros soubessem que ele tinha um filho veado. Com o tempo, as coisas foram se amenizando e eu prefiro acreditar que ele foi aceitando, do jeito dele. Não tocamos muito nesse assunto.

Já no meu caso, minha mãe sabia que eu era gay desde antes de eu namorar o Livio. Ela é muito esperta, percebia tudo e sacou super-rápido que eu estava com ele. Ela reagiu supertranquila: perguntou e eu falei. Meu pai é que finge que não sabe. Ele sabe, mas desde os meus 15 anos, quando descobriu sobre mim, nunca mais voltou neste assunto. Brigou muito comigo naquela época, me mandou sair de casa também, mas eu não fui, até porque não tinha para onde ir. Mas passou. Hoje ele ignora isso. Às vezes ele vem para o Rio e o Livio está aqui. Mas ele não pergunta, não questiona nada. Gosta do Livio, mas não toca no assunto, não quer ouvir. Mas nem por isso eu me escondo.

As pessoas mudam com o tempo. Veja o caso da minha avó: ela era uma pessoa superpreconceituosa e hoje é muito aberta para essa questão. Foi capaz de me acolher, ama o Livio, comenta nossas fotos no Facebook… Inclusive, é eleitora do Jean Wyllys. Mudou também a relação dela com um irmão mais novo, meu tio-avô, que é gay e sempre se escondeu. Nos últimos anos, ele começou a se abrir um pouco. Hoje, com algo em torno de setenta anos, ele já se permite falar mais do assunto e eles até conversam sobre os relacionamentos dele.

Matheus Freitas (designer) e Livio Mendes (editor, cinegrafista), juntos de 2009 a 2015.