Luciane e Elis

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Para mim não foi muito complicado porque eu transitava entre relações com homens e com mulheres. O mais engraçado é que a primeira situação de preconceito que tive de enfrentar não foi em relação ao fato de sair com mulheres, mas de ter homens também. As meninas gays falavam assim: “Por que você está saindo com homens, se já sai com mulheres?”.

Eu nunca gostei de misturar o espaço profissional com o que acontecia na minha vida pessoal. Acho que são coisas que não precisam se misturar, embora ambas façam parte da sua vida. Se alguém do trabalho perguntar se você é gay, por que colocar isso debaixo do tapete? Não é um processo simples para ninguém, porque a gente vive numa sociedade conservadora. Há pequenos nichos onde você pode viver sua sexualidade com tranquilidade, mas isso não é a regra social. Mesmo sabendo que não é fácil, acho que é preciso dar visibilidade, senão vai ser sempre uma coisa escondida e essa condição de não visibilidade é que gera mais preconceito. Imagino que possa ser mais simples para essa geração atual de adolescentes, que coloca na internet fotos com namorados e namoradas já no início da descoberta de sua sexualidade.

Eu vim a ter contato mais profundo com o Brasil há pouco tempo, num trabalho com trabalhadoras rurais integrantes de um movimento feminista no Nordeste. Nós as ensinamos a filmar para que elas mesmas pudessem mostrar seu movimento e contar sua história. Aí tive chance de descobrir a intensidade com que as coisas estão rolando no país. Conheci mulheres que vivem em lugares pequenininhos e que têm uma militância feminista, estão discutindo gênero, discutindo sexualidade. Trabalhadoras rurais que são gays, estão conectadas à internet, usam WhatsApp para se mobilizarem, usam as redes sociais para fazerem manifestações públicas… Isso é incrível, porque quando se fica neste circuito mais urbano, você pensa que tudo está acontecendo só nas cidades, especialmente nas cidades grandes, e na verdade nós temos um país em que as coisas estão rolando nos lugares mais distantes… Isso também tem pouca visibilidade.

Agora elas vão fazer uma das maiores marchas do país, que é a Marcha das Margaridas. Milhares de mulheres em Brasília, vindas do país inteiro. É um movimento feminista que abarca vários temas: violência contra as mulheres, educação política, as questões de gênero, e aí entra a questão da homossexualidade também. Quando uma mulher sai da sua região para ir para o encontro do MMTR, que é o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste, na comunidade dela os vizinhos costumam perguntar “Mas como assim, você vai deixar seu marido, seus filhos, para ir a um encontro feminista? Vai fazer o quê lá? Vai deixar de trabalhar e ir se divertir com outras mulheres?” Aquela visão clássica e preconceituosa que se tem do movimento feminista.

Luciane Quoos Conte (professora) e Elis Galvão (socióloga), juntas desde 2007.

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